Graça Campos poderá voltar ao jornalismo activo em 2014
O veterano Jornalista Graça Campos, co-fundador do jornal Semanário Angolense, anunciou, para o próximo ano, o seu regresso ao jornalismo activo. A informação, que ficou nas entrelinhas de uma comunicação de agradecimento pelas felicitações por ocasião do seu aniversario natalício, é revelada três anos depois do mesmo se ter afastado das redacções de jornais, logo após a venda da publicação que dirigia.
“A todos os meus amigos reitero agradecimentos por se haverem lembrado desta pobre alma. E só não os desafio para um funge de carne seca de pacaça com a competente muteta por razões de...Estado. Mas para o ano, altura em que já deverei ter assento em alguma Redacção, prometo-vos um funge de arromba”, lê no texto publicado no seu mural de Facebook.
Graça Campos dirigiu o Semanário Angolense desde a sua fundação, em 2003, e “por razões alheias a sua vontade”, segundo palavras do próprio, teve de o vender em Junho de 2010 ao grupo empresarial MEDIA INVEST. Quanto ao seu futuro, Graça Campos numa entrevista concedida ao jornal O País, em Junho de 2010, revelou que não se revia nos jornais em circulação até aquela data. “No AGORA, Folha 8, Novo Jornal, O PAÍS e outros pode existir um lugar...No F8? A sabedoria popular diz que quem cai no mesmo buraco duas vezes é burro. E eu, juro-vos, não sou burro! Portanto, o F8 está fora de hipótese. O AGORA também está fora de hipótese. Idem para O PAÍS. Como não gosto de misturar carne com peixe também não iria para o Novo Jornal”, disse.
Na mesma entrevista, conduzida pelos jornalistas Dani Costa e Teixeira Cândido, o antigo director do Semanário Angolese, manifestou o seu desejo de criar e dirigir um jornal diário e por isso mesmo não descartou a possibilidade de “entrar” para o Jornal de Angola, mas apenas na condição de Director-geral “para lhe mudar completamente a face e o conteúdo”.
Releia o último Editorial assinado por Graça Campos enquanto director do Semanário Angolense:
Valeu a pena
Graça CamposAssino hoje esta coluna pela última vez.
Em resultado de uma transacção que vinha sendo negociada há já alguns meses, a empresa Media Invest adquiriu a sociedade Semanário Angolense, Lda. e o Semanário Angolense, o seu mais conhecido símbolo.
Tratou-se de uma transacção ditada exclusivamente por questões de mercado, traduzida no formato mais comum em casos do género: uma empresa fez uma oferta de aquisição a outra. Foi uma operação comercial semelhante a muitas outras.
De resto, esta não foi a única «nuance» de mercado que se observou em Angola no domínio da comunicação social. Algumas publicações desapareceram, outras conheceram a luz do dia, outras ainda definharam, e umas poucas vão resistindo estoicamente aos desafios dos novos tempos.
No que toca ao título que – vão para aí 7 anos - eu e o Candembo lançamos, a empresa que o adquiriu sabe que tem nas mãos uma marca estabelecida no mercado. Vendas garantidas, reputação estabelecida. Em boa verdade, não se pode dizer que o Semanário Angolense, Lda. negociou com a corda ao pescoço. O SA é uma marca com viabilidade assegurada.
Apesar da redução do volume de publicidade, o que não foi obra exclusiva da crise que se assiste hoje nos quatro cantos do planeta, o Semanário Angolense conseguiu manter as vendas dentro da sua média, ou, para sermos mais precisos, um pouco acima da média nacional. Resumindo, o Semanário Angolense ou o «SA», como somos conhecidos nalguns corredores, é uma lebre e não um gato.
Em respeito aos termos do contrato (e porque não é verdade que os jornalistas não sabem guardar segredo) diremos apenas que o primeiro «aproach» entre a Media Invest e o SA teve lugar em Fevereiro.
As negociações arrefeceram em Março. A determinado ponto, as discussões pareciam inconclusivas, coisa que não é de estranhar quando se trata de fechar um negócio.
Negociações desta natureza, mesmo quando envolvem uma sociedade «pequena» como a nossa, não se esgotam num mês. Nem em dois. Por isso, o mês de Abril não produziu grandes progressos. Nas duas últimas semanas, advogados representando ambos os lados voltaram à mesa para uma ronda do que resultou um acordo aceite pelas duas partes.
Durante o processo negocial foi-me oferecida a cadeira que ocupo até hoje. Entendo que preciso, para já, de passar ‹para o ‹‹banco da trás›› do jornalismo para dar respostas a alguns projectos pessoais que a dinâmica de um jornal não permite. O regresso à escrita nesta ou noutra publicação vai acontecer a seu tempo.
A partir desta semana, o Severino Carlos, companheiro de longas caminhadas, assume a direcção do jornal. Para lá de outros agradecimentos que já exprimi num fórum mais restrito, deixo aqui expressamente o meu reconhecimento a ele mesmo, o ‹‹Severas››, como é tratado entre nós, ao Salas, à Sónia, à Marta, à Antónia, ao Cristóvão Neto, ao Cipriano, ao Rui Albino, à Lurdes, ao Camueji, ao João Correia e a todos os outros que dobraram connosco o «cabo das tormentas».
Permitam-me «arrolar» para esta conversa figuras que de uma ou de outra maneira emprestaram o nome ao projecto. São os casos de Manuel Rui, António Venâncio, Tazuary Nkeita, Ismael Mateus, Celso Malavoloneke, Sousa Jamba, Pedro Rodrigues, Inocência Mata, Elizabeth Vera Cruz, Luís Kandjimbo, «Jota Malanza»,Paula Santana, Adriano Botelho de Vasconcelos, Justino Pinto de Andrade, Maurílio Luiele, Jaime Azulay, Manuel da Costa, M.M. de Brito Júnior, Fernando Macedo, Noel Vilyaneke assim como ao Gustavo Costa, que assinou durante os primeiros anos do SA a coluna «Na primeira Pessoa». A todos os que aqui ainda estão faço uma inconfidência: as páginas deste jornal continuarão abertas.
Não posso fechar este capítulo sem reconhecer também a disponibilidade evidenciada várias vezes por Fernando Campos, da Lito Tipo, assim como por uma série de amigos que de uma ou de outra maneira ajudaram a transformar este jornal numa «marca». Devo um palavra particular aos advogados que em mais de uma ocasião estiveram comigo nos corredores da justiça.
Ao Severino mais uma nota: os anos de tarimba, a formação académica que tem e o background serão de uma mais valia para esta nova empreitada.
Aos leitores e todos os outros que durante anos se manifestaram fieis ao projecto o meu muito obrigado. Acredito que o produto que todas as semanas, durante anos, pusemos na rua, por um lado contribuiu para mudar alguma coisa neste país e, por outro, levou outros a acreditar que havia mercado. Mesmo porque ninguém, absolutamente ninguém, entra neste negócio para perder dinheiro. Nem mesmo quem tenha também razões políticas. No que nos toca a entrada no mercado, além de outras coisas, ajudou a criar um novo hábito aos sábados. Não nos tomem como arrogantes, mas há um «antes» e um «depois». Cabe ao «novo» Semanário Angolense influenciar - se disso podemos falar - o que será o «depois» daqui para diante. Por estas e por outras razões diria mais uma vez: valeu a pena.